No que a este voo respeita, e porque não gosto de falsas modéstias, mentiria se se dissesse que saí de casa sem ter na cabeça a possibilidade de juntar mais uns kms à melhor marca de Arganil, o que não me pareceu fácil de conseguir quando pelas 14h30 descolei. A essa hora o vento meteorológico estava já WNW e embora fraco, permitindo a canalização de frente da brisa térmica na concha da descolagem, não antevia fácil a tarefa de passar o maciço central, caso lá chegasse. O facto de só ter apanhado a 1ª térmica consistente já quase por cima da linha de alta tensão junto ao sopé do vale também não foi muito encorajador, mas verificar a consistência conforme subia e a satisfação de ter um teto já proximo dos 2000 ( o que é bem razoável para a zona ) fez-me avançar esperançoso.
O voo dividiu-se essencialmente em três partes distintas. O primeiro troço entre a descolagem e a zona do Alvôco da Serra não foi o termodinâmico que já realizei naquela rota pois a intensidade fraca do vento não iria permitir grandes aventuras a rasar as cumeadas face ao elevado risco de apanhar um contraciclo que rapidamente me colocaria no fundo de um vale sem aterragens. Logo, foi avançar cuidadoso em que o objectivo principal foi escolher boas linhas e manter a melhor altura possivel nas pequenas transições. Ao chegar à zona de Piodão notava-se um corredor de vento mais NW ou NNW até à Teixeira que dificultava o avanço na direcção da Torre mas com um aumento de intensidade que dava mais confiança nos apoios. Passei com à vontade o cruzamento da Teixeira e forcei a subida da cumeada das eólicas até ao limite possivel, zona em se me deparava a decisão de sempre naquela zona que, infelizmente, nunca cruzei com tetos acima da altura do ponto mais alto do território continental!
Era a zona de charneira de todo o voo e a mais dificil de superar já que, face aos tetos pouco acima dos 2000m, tinha de decidir se tentava contornar o maciço da Estrela para sotavento através da passagem pela zona de Unhais ou tentava "furar" a contraderiva de NW através das encostas sul e oeste, viradas ao sol. Quer uma ou outra hipotese tinham vantagens e inconvenientes e um grau de sucesso de uma oportunidade conseguida cada ( Arganil --» Covilhã e Alvoco das Várzeas --» Arrifana (Seia ). Embora estivesse mais inclinado para a possibilidade do sotavento resolvi que valeria a pena tentar "apalpar" a outra hipotese, face à promessa de uma boa restituição nas encostas NW que me poderia levar até Linhares e assim iniciei o mais delicado troço desta viagem pois cada contraforte da serra significava um sotavento face ao vento meteorológico, com os riscos inerentes à aproximação destas zonas e a subida, à custa da actividade térmica das encostas sul, a realizar-se nas zonas menos expostas a esse NW, com o avanço sempre a perder e na zona limite entre a descendente e as rotorizações a necessitar de alguma dose cautelosa de acelerador em algumas cristas. A vasta zona de pedra nua cria actividade térmica que não é agradavel apanhar perto do chão e quem já cruzou aquelas cristas sabe que a magnitude da paisagem nos faz sentir muito pequeninos... A dúvida estava sempre presente e à passagem para o Vale de Loriga coloquei a hipotese de não conseguir contornar todo o maciço. Entretanto, a orientação WNW do meteorológico perto dos 2000m ajudava-me em cada contraforte que "trepava" após a perda nas passagens em contraderiva. Foi sem duvida emocionante mas não aconselho muito a tentativa a quem não tiver umas horinhas valentes de "surf" em termodinâmico!
Por último, a 3ª parte do voo, e a mais tranquila pois a tal promessa de um passeio nas encostas NW cumpriu-se, tendo feito o troço até Linhares sem dificuldades de maior tirando talvez uma pequena dor de estomago, motivada decerto pela hora longinqua do almoço e pelas horas devidas à cama desde 6ª feira. Destaco a passagem por Linhares onde me cruzei com o pessoal de escola e outros que por lá andavam como o Ricardo Amador que ainda me conseguiu deliciar com a imagem do bilugar realizado com o pirralho. Cumprimentos trocados e apesar do dia anunciar o seu epilogo, segui para as éolicas a fim de arredondar a marca para os 60kms vindo a aterrar junto à N17 em Cortiçô da Serra, naquele que terá talvez sido, apesar dos humildes 62kms, o mais longo voo de termodinâmico realizado em Portugal.
Não posso aqui deixar de ter uma palavra para o Ernesto Ferreira pois, se não estou em erro, foi ele o responsável pela ultima limpeza da descolagem de Arganil que já apresentava mato pelos joelhos na altura! Assim sendo este voo também é dele e a ele é dedicado. Grande Abraço!
Grande voo, Daniel! Quando ouvi a tua comunicação à Ivone que estarias já na zona de Seia, fiquei em pulgas! Pensei: Já cá chega! Yuppie! O que eu curti ao ver o perfil longinquo da tua asa a aproximar-se de Oeste! Na altura já andava na sobrevivência, porque a condição estava a enfraquecer. E com os pequenos ultrapasso bem o peso máximo da Ellus. Mas aguentei-me até que chegasses para te comprimentar em voo.
Espero um dia fazer voo parecido. E se for na tua companhia, tanto melhor!
Como deves compreender a minha emoção na chegada a Linhares foi idêntica O Açor será sempre uma zona de dificil transposição, mas penso que já dei um contributo positivo para que isso aconteça com outros pilotos e tu estás, segundo me parece, na linha da frente para fazer um voo igual ou melhor a partir de uma das descolagens da zona. Se o fizermos juntos será fantástico.
Já que botas faladura aproveito para te dizer que os radios tem um alcance muito grande e essa cena de andares a combinar a lide da casa com o passarinho durante o voo é um bocado irritante.
Posto isto, para quem andou a "decalcar" os meus traks para Vila Nova e a dizer que era fácil fazer 60 pontos OLC, não percebo como não fazes mais de 58 e ainda por cima com uma asa que praticamente sabe voar sózinha melhor do que tu e com tetos de 2000m na Lousã o que é raro! Isso já eu fiz com um miserável teto de 1000m! É que por este andar quando a minha próstata já só der para m..ar nas botas ainda vou conseguir voar mais do que tu nas escapadinhas da lar
Parabéns pelo voo Folhas e obrigado pelo texto. Na Lousã não sabia onde andavas mas com as condições que apanhamos por lá era natural escrevesses historia.
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Grande voo, Daniel! Quando ouvi a tua comunicação à Ivone que estarias já na zona de Seia, fiquei em pulgas! Pensei: Já cá chega! Yuppie! O que eu curti ao ver o perfil longinquo da tua asa a aproximar-se de Oeste! Na altura já andava na sobrevivência, porque a condição estava a enfraquecer. E com os pequenos ultrapasso bem o peso máximo da Ellus. Mas aguentei-me até que chegasses para te comprimentar em voo.
Espero um dia fazer voo parecido. E se for na tua companhia, tanto melhor!
Como deves compreender a minha emoção na chegada a Linhares foi idêntica O Açor será sempre uma zona de dificil transposição, mas penso que já dei um contributo positivo para que isso aconteça com outros pilotos e tu estás, segundo me parece, na linha da frente para fazer um voo igual ou melhor a partir de uma das descolagens da zona. Se o fizermos juntos será fantástico.
Boa meu! E eu a pensar que já andavas a m***r para as botas... Boa descrição!
Já que botas faladura aproveito para te dizer que os radios tem um alcance muito grande e essa cena de andares a combinar a lide da casa com o passarinho durante o voo é um bocado irritante.
Posto isto, para quem andou a "decalcar" os meus traks para Vila Nova e a dizer que era fácil fazer 60 pontos OLC, não percebo como não fazes mais de 58 e ainda por cima com uma asa que praticamente sabe voar sózinha melhor do que tu e com tetos de 2000m na Lousã o que é raro! Isso já eu fiz com um miserável teto de 1000m! É que por este andar quando a minha próstata já só der para m..ar nas botas ainda vou conseguir voar mais do que tu nas escapadinhas da lar
Parabéns pelo voo Folhas e obrigado pelo texto. Na Lousã não sabia onde andavas mas com as condições que apanhamos por lá era natural escrevesses historia.
Cá está mais um voo de referência. Gil
belo voo, sim sr. essas travessias devem meter respeito.
parabéns!
curti o texto, Carlinhos. boa voaça, congrats
Mega Daniel !!!
Muitos parabéns! Já lá andei a espreitar p/ trás.. mas mete respeitinho..
Parabéns, Daniel, pelo voo que eu, com o meu "andaime", nunca poderei fazer. E pela descrição envolvente e vivida.
Um abraço.