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Voo de estreia da minha nova Rx Pro... Prometi ao António Aguiar que um dia destes fazia uma descrição; talvez seja deste.

PortugalRicardo Marques da Costa @ 2022-06-18 20:10:41 GMT Linguagem Traduzir   
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Flexível? Mas eu voo de rígida. Sim, mas este voo foi mesmo de flexível, a minha Moyes Litespeed Rx 3.5 Pro nova, que já tinha há um ano e que nunca tinha experimentado.

Uns dias antes, logo que tinha chegado de Inglaterra, tinha agarrado na minha rígida e, com a Vera, tínhamos ido a CV num dia que parecia bom para uns quilómetros valentes e em que nenhum dos meus amigos voadores quis alinhar. Chegámos, com uma caloraça impressionante, montei a asa e notei que, ao contrário do habitual, tinha sido muito fácil esticar a vela, não sendo preciso fazer tanta força como era costume. Já quase pronto e quando estava a empurrar as capas para dentro dos bordos de ataque notei que a parte de dentro da vela do bordo de ataque esquerdo estava com uma sombra esquisita: a vela tinha rasgado sem eu dar por isso, quando a tensionei...

Abortámos o voo, claro, e voltámos para Lisboa, eu frustrado pelo sucedido e por não ter voado, a minha queridinha com uma grande dor de cabeça.

Durante a semana muito trabalho por causa da inundação da minha casa, o tempo fatela. Finalmente na véspera de nos virmos embora para o UK parecia que ia estar outro dia bom para CV, com possivelmente um pouco de vento a mais. Comecei logo a fazer castelos no ar, passar por Plasencia, atravessar a serra de Gredos, passar a Sul de Salamanca e ir aterrar por volta de Valladolid, depois de mais de 300 km. Que boa oportunidade para experimentar a minha flexível nova. “Leva também a outra rígida, não vá o diabo tecê-las”, disse, previdente, a Vera. Não, a asa nova estava perfeita.

Lá fomos, outra vez os dois sozinhos.

Em CV o vento perfeito, consistente e mais fraco que o previsto, mesmo de frente. Nada de nuvens senão um estrato estreito de cirros que não tapava a insolação naquela região.

Montei num ápice, que isto de montar flexíveis não tem nadinha a ver com montar rígidas, é, como quase tudo o resto nas flexíveis, para meninos – ao contrário das rígidas que para transportar, montar e manobrar no chão são só para homens de barba muito rija. Quase no fim aparecem o Nuno Virgílio e a sua Rita (Vogel) Virgília, casalinho lindo que a Vera e eu adorámos rever. Parabéns para um lado – o Nuno tinha sido 14º e melhor Tuga no recente pré-Mundial em França –, parabéns para o outro – ele tinha lido que eu tinha sido 2º nas rígidas no campeonato de rebocado do UK –, discussão de tácticas para o dia – nenhuma discussão, tínhamos exactamente a mesma ideia sobre o dia e os mesmos planos megalómanos de voo (só faltou combinarmos o bar onde nos encontraríamos em Valladolid ou Burgos para as cañas da celebração). Ficámos, a Vera e eu, admirados com a técnica de recolha do casal Virgílio: ele vai pelo ar, a favor do vento, e ela vai, de carro, também na direcção do vento. Como se acertam no fim sabe Deus, que não levam os rádios ligados; ainda tentámos comunicar, que o Nuno tem um rádio, mas ele não nos conseguia ouvir. Descolou, bem, com aqueles passos largos e bonitos estilo “gravidade lunar” dos parapentistas nos dias bons, andou por ali um bocadinho e foi subindo devagar.

Meia hora depois fui eu, já com um ventinho de 20 km de frente, quatro passos ao som do desejo de “bom voo” da minha queridinha, nariz para o ar e aí estou, fácil. Fácil? Qual nada. Difícil! Imaginem que para virar o c***lho da asa um gajo tem de se pendurar, à força de braços, para o lado para onde quer que a asa vá! Se já se viu uma coisa assim?! Puxa para um lado, puxa para o outro – e então eu que estou, como a Rita dizia ao ver a Vera ajudar-me a vestir, com dificuldade, o arnês, com uma barriguinha –, a fazer oitos e a perder em frente à descolagem, umas dezenas de metros abaixo, durante cinco minutos a pensar “ná, isto é muito difícil, o melhor é eu ir já aterrar ali no oficial e acabar com isto”. Uns passarocos guiaram-me até uma ascendente, um par de voltas encadeadas, a asa a encarrilar e a dar alguma folga ao piloto, a ansiedade do primeiro voo a diluir-se na bela vista de CV, na deriva fraca e na subida constante, com muitos abutres a ajudar, até 500 m acima, a respirar melhor e a acalmar. Nada de Nuno em lado nenhum. Voltei à frente para apanhar algo mais consistente e apanhei, logo à esquerda da descolagem, a segunda, que me levou a 1600 à vertical de CV. Quase mil acima da descolagem, o dia com bom aspecto, menos vento e deriva que o previsto e com uns farrapinhos de cúmulos a despontar, com o tal estrato de cirros a Este da minha rota espalhando uma sombra comprida, à minha direita, paralela à minha rota e com o vento que estava mais ou menos de 220° – e a rota de voo, consequentemente, por volta dos 40° –, pensei que se calhar valia a pena ir indo, de acordo com o plano.

Apanhei a seguinte ainda antes da fronteira, a Oeste da Beirã e de uma zona onde só havia uma estrada e poucas aterragens, mas essa levou-me a 1800, o que já me dava para ultrapassar essa zona arborizada e inóspita e chegar a uma vila a 15 km, Santiago de Alcântara, e a umas aterragens meio mixirucas que havia ao redor da vila. A 700 m e pouco antes da vila, entretanto “alcançado” pela sombra do cirro que vinha de SE, apanhei mais um bufo e, de novo ajudado por um bando de grandes grifos, fui-me chegando a uma serrinha que há logo a NE da vila onde cheguei aos 1200 que não consegui ultrapassar. Fui enrolando o zero e derivando sem perder durante meia dúzia de quilómetros, a ver aproximar-se o Tejo e os seus grandes barrancos, pelo meio dos campos arborizados... Pensei que áquele ritmo iria aterrar nuns campos a descer para o rio, já do lado de lá, o que não me parecia grande ideia – aterrar a descer. Havia, do lado de cá e pelo contrário, uma quinta (sei agora que é o hotel Baldio Grande) com um campinho ao lado de uma estrada de terra que parecia a subir e óptimo para aterrar. Segurança primeiro, resolvi vir para trás para aterrar ali.

A 300 m do chão, já com o arnês aberto, que eu não brinco, apanhei outro bufo consistente e deixei-me ir: em dois quilómetros subi 600m, até 1300 e à vertical do Tejo. A altitude já me permitia evitar os tais campos a descer e, se fosse necessário, aterrar noutros com bom aspecto perto do Rosmaninhal, 10 km mais para a frente. Cheguei lá com 200 m. Abri outra vez o arnês, apontei a um campinho menos mau... e apanhei mais qualquer coisa. Como havia mais um par de aterragens a sotavento ensaiei uns giros a derivar e fui subindo até aos 1000, já com folga para ir mais além. Logo a seguir subi mais 400m e vi a Zebreira a 10 km. Já com quase duas horas de voo, os bracinhos a-dar-a-dar — já vos disse que isto de flexíveis é só para homens de barba rija e que andar de rígida é para meninos? —, o ar a não desenvolver grande coisa, a deriva fraca, a serra da Gata, que já se via ao longe e onde eu sabia que andavam os parapentes e onde pensei que podia fazer uma escala no meu voo até Valladolid (!), longe demais, a aguinha azul da barragem da Zebreira a puxar para baixo (mentira, tive de me esforçar para conseguir descer), “é ali que vou aterrar”.

E fui. O vento forte de quase Oeste permitiu-me uma aterragem quase parado, levei a asa até à sombra de um sobreiro, despi-me na caloraça e telefonei à minha queridinha, que estava a 5 minutos dali — boas recolhas é assim.

Derreado do voozinho de duas horas, desarmei e metêmo-nos no carro para casa; nem banho tomámos na barragem. A Vera disse-me que o Nuno tinha aterrado logo a seguir a CV e que não tinha conseguido nunca passar a inversão por volta dos 1200 – 1300. Por mim valeu a pena, para constatar que a asa é óptima, que já não tenho braços para uma flexível — relembrei-me da diferença física entre os asa-deltistas de há uma dúzia de anos, todos caparrosos, de costas e braços largos, e os parapentistas, normalmente muito menos atléticos —, que voar é muito bom e que a minha queridinha é, entre outras coisas boas, a melhor recolha do Mundo.

PortugalRicardo Marques da Costa @ 2022-07-10 16:44:12 GMT Linguagem Traduzir   
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