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Acabou no Sábado 08.06.2024 a 14ª edição da Vuelta a Espanha em asa delta. Este evento, imaginado por por Pablo Gómez-Trenor, antigo piloto de asa delta. é actualmente organizado pelo Juaki e pelo Carlos Puñet, consta de uma reunião de pilotos de asa delta que, durante sete dias, descolam de um aeródromo, rebocados por um trike ou por um Dragonfly, e voam até outro aeródromo de onde descolarão no dia seguinte. A preparação do voo de cada dia é feita com pouco mais de 24 horas de antecedência, de acordo com a previsão meteorológica, de tal modo que só dois dias antes do início desta “Vuelta” soubemos que o aeródromo de onde iniciaríamos esta aventura seria o de Corral de Ayllón, a meia distância entre Segóvia e Sória.

Chegámos os três na véspera, a Vera, a magnífica autocaravana que tínhamos alugado e eu, depois de uma noite bem dormida em Fuentemilanos e de um voo em que inaugurei a minha Atos VR nova em Piedrahita. Ao longo do fim da tarde foram chegando os vários participantes, em carros próprios, carrinhas ou “campervans”. Eram ao todo 15 pilotos de várias nacionalidades – muitos espanhóis, três brasileiros, dois alemães (um alemão, o Guty, e uma alemã, a Tina), um suíço, um inglês, um irlandês e eu, português. As asas eram quase todas rígidas excepto cinco flexíveis dos três brasileiros, do Juaki e do irlandês. Havia um grande furgão alugado cheio de tralha que, percebemos então, transportava o material de cozinha e as tendas e material de campismo dos participantes. Quatro dos pilotos, os que vinham em autocaravanas, tinham trazido as mulheres.

Logo ali, num dos enormes hangares do aeródromo, se montou uma longa mesa bem posta e, tarde como é típico dos espanhóis, todos jantámos opiparamente um repasto cozinhado pelo Carlos Ubalde e os seus dois ajudantes, o Peter e o Emílio, constando de “entrante”, “primer plato” e “postre”. Importantemente, as bebidas – todas as bebidas, de Coca Cola a conhaque, passando por outros refrigerantes, cerveja, vinho e uísque – eram também fornecidas à discrição.

 

O dia seguinte amanheceu com boa perspectiva de voo. Como era o primeiro dia e havia vários novatos, o Carlos Puñet e o Juaki gastaram umas boas duas horas a fazer um briefing extenso sobre o que era a Vuelta em geral, como iria decorrer esta e qual era o plano para aquele dia em particular. O dia prometia vento fraco de até 15km/h entre os quadrantes N e E, com tecto de até 2700 e convergência sobre o “sistema central”, e foi organizada uma prova até Fuentemilanos, a 97 km em linha recta. O aeródromo onde estávamos era uma extensão enorme de pistas de erva, sem asfalto, e as asas foram levadas – algumas já estavam montadas dentro do hangar desde a véspera – para a intersecção das pistas. O calor e o pouco vento favoreceram o aparecimento de um par de dust-devils, um dos quais levou a asa do Alberto a embater contra um dos carros fazendo-lhe um furo na vela e uma mossa no bordo de ataque que o impediu de voar nesse dia. Os outros começaram lentamente as operações a partir das 15:00 horas, sendo os alemães os primeiros, o Guty seguido da Tina... Os outros pilotos foram descolando, tendo alguns aterrado sem conseguirem assegurar térmica e descolando de novo. Deixei-me ficar para o fim, destreinado que estava, e descolei depois das 16:00, rebocado pelo Miguel no trike. Descolagem sem problema mas reboque em que não consegui manter-me direitinho atrás do trike; a 400 m AGL – a indicação era de que os reboques fossem até pelo menos 600 m AGL –, numa das ocasiões em que o trike estava muito abaixo de mim, desliguei-me mesmo sem estar numa térmica. O aeródromo está a 1000 m ASL e fui descendo sem encontrar ascendência até estar a menos de 1300 m. Finalmente apanhei algo com menos de 1 m/s mas, (quase) desesperado e não querendo fazer má figura e aterrar para ser de novo rebocado, agarrei-me a ela com unhas e dentes e, com a ajuda de uma flexível que por ali voava também com dificuldade em subir, fui derivando devagar para OSO. Felizmente os campos à volta do aeródromo são amplos, planos e limpos, quase todos perfeitamente aterráveis, pelo que a única preocupação era não perder a térmica. Quase meia hora depois, a 2000 m e a 7 km do aeródromo, achei que não subiria mais e fiz-me à vida, apontando a SO na direcção de Fuentemilanos. 15 minutos e 10 km depois, sem ter apanhado nada apesar de duas ou três voltinhas a tactear, estava a 150 m do chão, de arnês aberto para aterrar, apontado a um campinho bom mesmo ao lado da estrada principal. Como de costume quando está vento fraco dou um 360 para que os Flymasters me ajudem a decidir em que direcção aterrar e, ao fazê-lo, vejo um daqueles abutres enormes e lindos que abundam em Espanha a subir pouco a 100 m de mim. Arrisquei segui-lo e bumba: térmica boa que a espaços dava mais de 3m/s e que me subiu a 1600 m, acompanhado de vários dos tais abutres. Na meia hora seguinte fui-os seguindo, de núcleo em núcleo, sem nunca chegar aos 2000 m, ao longo de um planalto e até abaixo de uma nuvem que, finalmente e com períodos acima de 5m/s, me levou a 2300 m. A partir daí foi sempre a descer – e o chão sempre a subir... – até estar a 500m do chão e ter de escolher um campo menos que óptimo, com algumas árvores, para planear uma aterragem a um par de quilómetros. Felizmente uma nuvem perto indicou-me outra térmica lenta em que levei 10 minutos para subir 600 m. Piquei para a nuvem seguinte – nesta altura e mais perto da serra as nuvens indicavam bem as térmicas – e lá estava uma de 4 m/s que me subiu 700 m em 5 minutos e que me permitiu chegar à corda da serra e fazer a meia hora seguinte por um caminho de nuvens que rendia bem e que me levou até E de Segóvia e a quase 3000 m, ainda a 25 km do golo em Fuentemilanos. Instalou-se em mim a dúvida: continuo pela serra apesar das nuvens começarem a rarear em frente e do vento, na altura vindo de O, me ir dificultar o salto da montanha para o golo que está a 1000 m ASL, ou vou directamente para a aterragem, confiante no planeio da asa nova e no vento a 45° de frente? Apesar do glide necessário ser à volta de 15:1, o cansaço de 2:30 horas de voo sempre sozinho depois da primeira térmica ajudou-me a escolher a segunda hipótese: estiquei-me todo no arnês, pus a cabeça para baixo e os pés para cima, juntei os cotovelos ao corpo e, de olhar fixo ora nas indicações do GRMG – o glide real que estava a fazer – e do GR necessário para o golo ora no aeródromo, apontei a este e atirei-me para a planície sem nuvens. Perdi quase 1000 m na primeira metade do percurso e nessa altura o GRMG estava abaixo do GR golo, indicando que se as coisas continuassem nesses termos não chegaria lá. Por cima do parque industrial e de uma pedreira que era um buraco claro na paisagem apanhei uma última térmica que larguei 400 m depois, com a indicação de um GR golo de 8:1 que parecia suficiente. Afinal nos últimos 10 km a dificuldade estava... em descer, e apesar de ter chegado a voar a uma velocidade superior a 100km/h, cortei a meta com mais de 400 m de altura, vendo três ou quatro asas já aterradas e a minha Queridinha a chegar ao aeródromo, a parar a carrinha e a correr para a pista para filmar a minha aterragem que, como de costume, foi de papo. Foram quase 3 horas e 90km de um voo bonito, e eu estava feliz com a chegada ao golo e a perspectiva de não precisar de desmontar a asa para o dia seguinte. Como eu chegaram ao golo o Carlos, o Benito, o Roberto, o Guty, o Paul, o Christian e o Konrad.

Acampámos no parque de campismo do aeródromo, com banhinhos bons na casa de banho espaçosa e o jantar, bem regado, com toda a gente. Supimpa!

PortugalRicardo Marques da Costa @ 2024-06-13 16:44:41 GMT Linguagem Traduzir   
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