Sábado, último dia da Vuelta, a previsão era de tecto baixo de até 2700 m com vento fraco, variável, que aumentaria para a tarde, altura em que haveria risco de tormentas. Estabeleceram uma prova curta de 70 km ao longo do vale: 30 km para E até uma baliza e volta de 40 km até 10 km a O do aeródromo. O dia parecia pouco promissor e pedi ao Miguel, de novo e depois de ter conversado com ele sobre o mau reboque que me tinha feito no dia do voo longo, que me levasse aos cabeços a N do aeródromo e me assinalasse quando chegasse a uma térmica para eu me largar nela. Lá fui, atrás dele, na direcção dos cabeços a N até o safardola, o menos mau dos epítetos com que posso mimoseá-lo, me fazer sinal para me largar a 1500 m ASL, 2 km antes de chegar aos cabeços e numa “térmica” de - 2 m/s (menos dois!...). Nos dois quilómetros até aos cabeços, por entre impropérios dirigidos ao rebocador, perdi 300m até chegar à corda onde, conforme eu esperava, apanhei um canhão de 3 a 5 m/s que me subiu 500 m antes de acalmar para 2 a 3 m/s e outros 500 m de altura. Via o Benito e o Paul enrolando mais para N e 500 m acima de mim e fui-me deixando ir mais para N e para dentro das montanhas, sem no entanto me atrever a sair do alcance do vale e sem conseguir chegar à sua altura. Às tantas perdi-os e resolvi ir seguindo os passarões que abundavam por ali e ir, sozinho – que novidade... –, fazer o meu voo em direcção à baliza de E, sempre por cima da primeira linha de montes a N do vale. Subia a 2500, ajudado pelos passarões, saltava para o próximo cume, e assim por diante. Fiz a baliza, 4 km fora da cordilheira e voltei para trás pensando que ia ser canja repetir o trajecto ao contrário para chegar ao golo. Mas só consegui subir a 2200 no regresso à cordilheira e depois pouco mais fiz que uma ladeirita merreca por ali fora que às tantas acabou e me obrigou a aterrar 10 km antes do aeródromo, noutro campo semeado. Fiz um flare bom mas dois metros mais alto do que devia e a asa caiu, comigo sentado debaixo, direitinha e com tudo inteiro. Menos mal, trouxe-a para a berma da estrada e comecei a despir-me. Daí a 10 minutos chegam dois guardas civis de carro, a perguntar se eu tinha mandado um SOS. Não, não tinha. Com ar de dúvida consultaram a base por rádio e perguntaram-me se eu tinha um iPhone. Eu tinha. “Mirelo porfa”. Mirei-o: piscava “SOS, SOS,...”. A “queda” do flare tinha parecido ao telefone um esbardalho e ele tinha, sem que eu me apercebesse, enviado um pedido de ajuda... Pedi desculpa e que me ajudassem a levar a asa para um cantinho não semeado, o que fizeram. Ainda me ofereceram uma garrafa de água fresquinha antes de se irem embora, ver se estava tudo bem com a Tina que entretanto tinha aterrado à nossa vista a cerca de 1 km dali. Quando a Vera chegou já tinha o arnês e a tralha arrumados. Dobrámos a asa bem dobrada, de acordo com as indicações que o Guty na véspera nos tinha dado, esvaziámos e guardámos as pranchas de SUP que tínhamos usado na véspera na lagoa, prendemos tudo na carrinha e voltámos para o aeródromo para o jantar de encerramento da Vuelta. Chegaram ao golo o Benito, o Paul e o Alberto, o último dos quais vindo directo da baliza, onde subiu a 3700 m e não fez uma única volta dali até à aterragem. O Christian ficou perto do aeródromo e eu logo a seguir.
O jantar de encerramento decorreu como de costume, com todos presentes, bem dispostos e aliviados com o facto de o Roberto já estar bem e em casa. A única novidade foi a iluminação estroboscópica propiciada pelos relâmpagos que cortaram o céu durante todo o jantar, prometendo cargas de água que acabaram por não chegar senão na manhã seguinte. Houve alguns discursos, nomeadamente do Roberto júnior agradecendo a todos pelo cuidado com que seguimos as desventuras do pai, do Carlos que falou de cada um dos presentes destacando, quando chegou a vez da Vera, a ajuda que ela sempre me dava e o cuidado com que me tratava, e do Juaki.
Na manhã seguinte, depois de uma noite bem dormida, a Vera e eu arrancámos cedo para fazermos os mil e poucos quilómetros que nos separavam de casa, onde chegámos pouco mais de 12 horas depois. Já escrevi ao Carlos e ao Juaki pedindo-lhes que pusessem os nossos nomes na lista da Vuelta 2025.
Quanto a mim foram seis – em sete – dias de voos memoráveis, num total de 15 horas e 650 km – a minha Queridinha fez pelo menos o dobro a guiar a autocaravana –, ainda por cima sem dobrar um único fusível ou provocar qualquer dano na minha asa nova. Excepcional!
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Sábado, último dia da Vuelta, a previsão era de tecto baixo de até 2700 m com vento fraco, variável, que aumentaria para a tarde, altura em que haveria risco de tormentas. Estabeleceram uma prova curta de 70 km ao longo do vale: 30 km para E até uma baliza e volta de 40 km até 10 km a O do aeródromo. O dia parecia pouco promissor e pedi ao Miguel, de novo e depois de ter conversado com ele sobre o mau reboque que me tinha feito no dia do voo longo, que me levasse aos cabeços a N do aeródromo e me assinalasse quando chegasse a uma térmica para eu me largar nela. Lá fui, atrás dele, na direcção dos cabeços a N até o safardola, o menos mau dos epítetos com que posso mimoseá-lo, me fazer sinal para me largar a 1500 m ASL, 2 km antes de chegar aos cabeços e numa “térmica” de - 2 m/s (menos dois!...). Nos dois quilómetros até aos cabeços, por entre impropérios dirigidos ao rebocador, perdi 300m até chegar à corda onde, conforme eu esperava, apanhei um canhão de 3 a 5 m/s que me subiu 500 m antes de acalmar para 2 a 3 m/s e outros 500 m de altura. Via o Benito e o Paul enrolando mais para N e 500 m acima de mim e fui-me deixando ir mais para N e para dentro das montanhas, sem no entanto me atrever a sair do alcance do vale e sem conseguir chegar à sua altura. Às tantas perdi-os e resolvi ir seguindo os passarões que abundavam por ali e ir, sozinho – que novidade... –, fazer o meu voo em direcção à baliza de E, sempre por cima da primeira linha de montes a N do vale. Subia a 2500, ajudado pelos passarões, saltava para o próximo cume, e assim por diante. Fiz a baliza, 4 km fora da cordilheira e voltei para trás pensando que ia ser canja repetir o trajecto ao contrário para chegar ao golo. Mas só consegui subir a 2200 no regresso à cordilheira e depois pouco mais fiz que uma ladeirita merreca por ali fora que às tantas acabou e me obrigou a aterrar 10 km antes do aeródromo, noutro campo semeado. Fiz um flare bom mas dois metros mais alto do que devia e a asa caiu, comigo sentado debaixo, direitinha e com tudo inteiro. Menos mal, trouxe-a para a berma da estrada e comecei a despir-me. Daí a 10 minutos chegam dois guardas civis de carro, a perguntar se eu tinha mandado um SOS. Não, não tinha. Com ar de dúvida consultaram a base por rádio e perguntaram-me se eu tinha um iPhone. Eu tinha. “Mirelo porfa”. Mirei-o: piscava “SOS, SOS,...”. A “queda” do flare tinha parecido ao telefone um esbardalho e ele tinha, sem que eu me apercebesse, enviado um pedido de ajuda... Pedi desculpa e que me ajudassem a levar a asa para um cantinho não semeado, o que fizeram. Ainda me ofereceram uma garrafa de água fresquinha antes de se irem embora, ver se estava tudo bem com a Tina que entretanto tinha aterrado à nossa vista a cerca de 1 km dali. Quando a Vera chegou já tinha o arnês e a tralha arrumados. Dobrámos a asa bem dobrada, de acordo com as indicações que o Guty na véspera nos tinha dado, esvaziámos e guardámos as pranchas de SUP que tínhamos usado na véspera na lagoa, prendemos tudo na carrinha e voltámos para o aeródromo para o jantar de encerramento da Vuelta. Chegaram ao golo o Benito, o Paul e o Alberto, o último dos quais vindo directo da baliza, onde subiu a 3700 m e não fez uma única volta dali até à aterragem. O Christian ficou perto do aeródromo e eu logo a seguir.
O jantar de encerramento decorreu como de costume, com todos presentes, bem dispostos e aliviados com o facto de o Roberto já estar bem e em casa. A única novidade foi a iluminação estroboscópica propiciada pelos relâmpagos que cortaram o céu durante todo o jantar, prometendo cargas de água que acabaram por não chegar senão na manhã seguinte. Houve alguns discursos, nomeadamente do Roberto júnior agradecendo a todos pelo cuidado com que seguimos as desventuras do pai, do Carlos que falou de cada um dos presentes destacando, quando chegou a vez da Vera, a ajuda que ela sempre me dava e o cuidado com que me tratava, e do Juaki.
Na manhã seguinte, depois de uma noite bem dormida, a Vera e eu arrancámos cedo para fazermos os mil e poucos quilómetros que nos separavam de casa, onde chegámos pouco mais de 12 horas depois. Já escrevi ao Carlos e ao Juaki pedindo-lhes que pusessem os nossos nomes na lista da Vuelta 2025.
Quanto a mim foram seis – em sete – dias de voos memoráveis, num total de 15 horas e 650 km – a minha Queridinha fez pelo menos o dobro a guiar a autocaravana –, ainda por cima sem dobrar um único fusível ou provocar qualquer dano na minha asa nova. Excepcional!