No dia seguinte, 4º da Vuelta, o vento iria estar do quadrante S / SO com 20 a 30 km e tecto de até 3700, com nuvens. O repto era de voltarmos para o aeródromo de Corral de Ayllón, onde tínhamos começado o périplo, para um voo de 171km: atravessaríamos Gredos no sentido contrário ao do dia anterior, rumaríamos a Ávila e depois, num rumo paralelo às serras do maciço central, iríamos para o aeródromo. Fácil... Fui o segundo a descolar, atrás do Guty que rebentou o fusível baixo e ficou por S do aeródromo a pastelar. O trike teve um problema e não trabalhava por isso fui rebocado pelo Dragonfly do Panze, que me largou a 1200 m ASL perto da corda de Mijares, onde apanhei uma térmica fácil até 1700 e, depois de subir a corda, outra até quase 2500. O plano, por ser um voo longo, por ainda não haver nuvem e por a travessia até Ávila ter poucas aterragens e não ser fácil, era que os primeiros esperassem, na serra, até se formar um grupo para atravessarmos juntos. E por ali andei mais de meia hora, esperando, conseguindo à justa manter-me 100 a 300 m acima da corda, com a ajuda de abutres e de duas rígidas que entretanto vieram do lado de Ávila, provavelmente de Piedrahíta, com quem dei umas voltas numa térmica antes de eles prosseguirem para S. Esperei mais um pouco mas não conseguia ver mais ninguém no ar. Por isso quando apanhei uma térmica que me subiu a 2800 pensei “que se f***, vou-me embora sozinho”. A esse respeito, do “sozinho”, além das voltas na primeira térmica do primeiro dia com o Enda e de umas poucas voltas muito abaixo do Konrad no dia do acidente do Roberto em Fuentemilanos, nunca voei com mais ninguém. Lá fui, por uns primeiros 20 km inóspitos e com poucas hipóteses de aterragens: a instrução do Carlos, do Benito e do Guty era “ruta por la izquierda de los molinos y por Norte de Ávila”, por isso, bem mandado, fui pela direita das eólicas e por Sul de Ávila, ajudado por mais duas térmicas que me levaram a 2800 e a 2900, derivando bem na direcção das eólicas antes de Villacastin, onde cheguei a 1700... Pássaros ajudaram-me a apanhar a seguinte até aos 3000, sempre derivando para NE. Passei a NO de Fuentemilanos e de Segóvia chegando aos 3500 e a partir daí, já fora da TMA de Madrid, fui voando tranquilamente. A 30 km do golo pensei que estava garantido e “tirei” para a frente mas quando cheguei a 15 km de distância, a 900 m do chão e com a rota toda na sombra, pensei que corria o risco de não chegar... Voltei um pouco atrás para procurar uma nesga de Sol e lá estava a térmica salvadora que me subiu mais 600 m para garantir um planeio final de até 135 km/h em direcção ao golo onde não estava ainda nenhuma asa e afinal cheguei, ao fim de 4 horas de voo, com 900 m AGL porque depois dessa térmica e apesar do picanço desci muito pouco. Tive ocasião de usar os aerofreios que a minha asa nova tem, que ajudam imenso a perder altura, mas ao chegar ao chão, de pé nos últimos 50 m e apesar de um ventinho de frente, a asa ia tão depressa que “recolhi o trem de aterragem”, i.e. pus as pernas outra vez para dentro do arnês, deitei-me e aterrei, como de costume, de papo: afinal tinha-me esquecido de pôr os flaps para a aterragem... Nesse dia fui o primeiro no golo, seguido do Guty, Christian, Benito, Paul e Alberto. Um luxo e um bom prémio para os “goleiros”, guardar as asas montadas no hangar para o dia seguinte.
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No dia seguinte, 4º da Vuelta, o vento iria estar do quadrante S / SO com 20 a 30 km e tecto de até 3700, com nuvens. O repto era de voltarmos para o aeródromo de Corral de Ayllón, onde tínhamos começado o périplo, para um voo de 171km: atravessaríamos Gredos no sentido contrário ao do dia anterior, rumaríamos a Ávila e depois, num rumo paralelo às serras do maciço central, iríamos para o aeródromo. Fácil... Fui o segundo a descolar, atrás do Guty que rebentou o fusível baixo e ficou por S do aeródromo a pastelar. O trike teve um problema e não trabalhava por isso fui rebocado pelo Dragonfly do Panze, que me largou a 1200 m ASL perto da corda de Mijares, onde apanhei uma térmica fácil até 1700 e, depois de subir a corda, outra até quase 2500. O plano, por ser um voo longo, por ainda não haver nuvem e por a travessia até Ávila ter poucas aterragens e não ser fácil, era que os primeiros esperassem, na serra, até se formar um grupo para atravessarmos juntos. E por ali andei mais de meia hora, esperando, conseguindo à justa manter-me 100 a 300 m acima da corda, com a ajuda de abutres e de duas rígidas que entretanto vieram do lado de Ávila, provavelmente de Piedrahíta, com quem dei umas voltas numa térmica antes de eles prosseguirem para S. Esperei mais um pouco mas não conseguia ver mais ninguém no ar. Por isso quando apanhei uma térmica que me subiu a 2800 pensei “que se f***, vou-me embora sozinho”. A esse respeito, do “sozinho”, além das voltas na primeira térmica do primeiro dia com o Enda e de umas poucas voltas muito abaixo do Konrad no dia do acidente do Roberto em Fuentemilanos, nunca voei com mais ninguém. Lá fui, por uns primeiros 20 km inóspitos e com poucas hipóteses de aterragens: a instrução do Carlos, do Benito e do Guty era “ruta por la izquierda de los molinos y por Norte de Ávila”, por isso, bem mandado, fui pela direita das eólicas e por Sul de Ávila, ajudado por mais duas térmicas que me levaram a 2800 e a 2900, derivando bem na direcção das eólicas antes de Villacastin, onde cheguei a 1700... Pássaros ajudaram-me a apanhar a seguinte até aos 3000, sempre derivando para NE. Passei a NO de Fuentemilanos e de Segóvia chegando aos 3500 e a partir daí, já fora da TMA de Madrid, fui voando tranquilamente. A 30 km do golo pensei que estava garantido e “tirei” para a frente mas quando cheguei a 15 km de distância, a 900 m do chão e com a rota toda na sombra, pensei que corria o risco de não chegar... Voltei um pouco atrás para procurar uma nesga de Sol e lá estava a térmica salvadora que me subiu mais 600 m para garantir um planeio final de até 135 km/h em direcção ao golo onde não estava ainda nenhuma asa e afinal cheguei, ao fim de 4 horas de voo, com 900 m AGL porque depois dessa térmica e apesar do picanço desci muito pouco. Tive ocasião de usar os aerofreios que a minha asa nova tem, que ajudam imenso a perder altura, mas ao chegar ao chão, de pé nos últimos 50 m e apesar de um ventinho de frente, a asa ia tão depressa que “recolhi o trem de aterragem”, i.e. pus as pernas outra vez para dentro do arnês, deitei-me e aterrei, como de costume, de papo: afinal tinha-me esquecido de pôr os flaps para a aterragem... Nesse dia fui o primeiro no golo, seguido do Guty, Christian, Benito, Paul e Alberto. Um luxo e um bom prémio para os “goleiros”, guardar as asas montadas no hangar para o dia seguinte.